Setor calçadista volta a contratar e espera melhora até o fim do ano


Cadeia produtiva do couro e do calçado aumenta produção e efeito cascata positivo diminui as perdas da pandemia. Empresas da região já fazem até investimentos em máquinas


O vazio e o silêncio que chegou a tomar conta dos parques fabris da cadeia coureiro-calçadista em função das medidas adotadas para controlar o avanço da Covid-19, aos poucos, é substituído pelo barulho das operações das máquinas de corte, costura e secagem. Desde a chegada da pandemia no Brasil, muitas empresas paralisaram totalmente suas atividades por um período de duas a três semanas, no mínimo, sendo que algumas unidades chegaram a ficar 70 dias sem movimentações. Com projeções otimistas para o ano, o cluster sentiu fortemente os efeitos devastadores da pandemia, sendo um dos setores industriais mais atingidos no País.


Entretanto, o pior cenário economicamente parece ter ficado para trás e a cadeia já dá os primeiros passos para uma retomada das atividades e recuperação das perdas, o que além de dar fôlego às empresas faz com que um "efeito cascata" positivo seja sentido na cadeia produtiva. Na região, por exemplo, algumas companhias voltaram a contratar e a trabalhar em tempo integral, outras têm planos para recontratar nos próximos meses, e há, ainda, investimentos em bens de capital.



Volta à fábrica

Em Santo Antônio da Patrulha, a quinta-feira será marcada pelo retorno de 100 colaboradores - que haviam sido desligados de fábricas de calçados da cidade em função do coronavírus - para as linhas de produção da RR Shoes. A empresa, que na semana passada anunciou as contratações, uma semana após a Justiça gaúcha aceitar seu pedido de recuperação judicial, vai aumentar o quadro de colaboradores.

O CEO da calçadista, que é detentora da marca Via Uno, Ramon Rabelo, revela que outros 50 trabalhadores serão integrados no próximo dia 24. "A retomada ainda está tímida, mas já sentimos a necessidade de aumentar o quadro de funcionários. Acredito que teremos uma recuperação gradual até o final do ano. A ideia é crescer e aumentar a produção junto com o mercado", afirma Rabelo, ao dizer que das aproximadamente 800 pessoas demitidas pela empresa em função da crise, 150 estão voltando para a fábrica.



Melhora significativa

A mudança positiva no cenário é sentida tanto pelas grandes e médias indústrias quanto pelas micro e pequenas produtoras de sapato. No Vale do Paranhana, a Calçados Variettá, que está há 13 anos no mercado, projeta retornar ao trabalho integral nas próximas semanas. O diretor Márcio Port dos Santos comenta que a fábrica enxerga uma melhora significativa. "O mês de abril foi catastrófico e tivemos um faturamento de 40% de um mês normal. Agora, com o que já temos, estamos prevendo 70% de faturamento e produção. Alguns colaboradores ainda estão com jornada reduzida, mas devemos ter turno integral nas próximas semanas", fala, ao esperar que até outubro a situação se normalize.



Recontratações planejadas para setembro
A calçadista Usaflex, de Igrejinha, que começou o ano crescendo 25% teve uma verdadeira cambalhota no seu planejamento. Com a pandemia, a mão de obra reduziu em 30%, o que representa cerca de 800 trabalhadores, e a jornada integral de trabalho deve voltar em setembro. O CEO da companhia, Sergio Bocayuva, fala que durante a crise a empresa utilizou as medidas de suspensão e redução da jornada. “A reabertura da região Sudeste é o grande balizador para esta retomada que deve ocorrer de forma gradual. Enxergamos uma oportunidade de recontratar 50% da mão de obra em setembro, mas vai depender da resposta do mercado”, fala o executivo, ao dizer que já tem lojas físicas respondendo muito bem. “Algumas lojas de rua nas regiões Nordeste e Centro-Oeste já estão superando em 100% o desempenho de 2019. Além disso, voltamos a expandir as franquias. Somente em julho, abrimos oito.



Inicia-se uma retomada interessante para as empresas
A retomada das atividades começou de forma gradual na Vulcabras Azaleia. A companhia que concedeu férias e chegou a adotar a redução de 70% da jornada de trabalho parou com a medida em julho para operar de forma progressiva. “Nós já vimos e conseguimos ver uma retomada boa na empresa. Com austeridade, trabalhamos bastante com o comitê de crise, usamos dos artifícios e não demitimos. A capacidade produtiva voltou a ser ocupada em 100% em julho e vemos uma melhora há algumas semanas”, pontua o CEO Pedro Bartelle. Na avaliação do executivo, este é um momento importante em que as empresas voltam a confirmar pedidos e a faturar. “Enxergo com otimismo o segundo semestre. Agora vem uma retomada interessante, mas é importante que não vejamos que tudo tenha se resolvido porque a paralisação causou um dano muito grande”, destaca Bartelle.



"Estamos taxiando para levantar voo"
Com a certeza de que a indústria de calçados, nos meses de abril e maio, já bateu no fundo do poço desta crise provocada pela pandemia da Covid-19, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) comemora, com os pés no chão, os primeiros sinais de retomada da produção que já são sentidos nas fábricas. “Estamos tendo uma leve melhora em relação aos pedidos tanto do mercado interno quanto do externo. É preciso ter calma, mas o clima está mais positivo.Primeiro tivemos uma sinalização de consultas e, agora, vieram os pedidos”, afirma o presidenteexecutivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira. Essa melhora no cenário é apontada pela entidade como consequência, principalmente, das flexibilizações na região Sudeste e na volta das atividades no Nordeste. Para explicar a recuperação do setor, Ferreira, faz uma analogia. “A indústria de calçados responde rapidamente aos estímulos da retomada do consumo. Agora, diria que estamos taxiando para levantar voo, indo para a beira da pista para pegar velocidade e decolar.”

Efeito cascata chega a bens de capital
Com a recuperação da produção das fábricas de calçados, a cadeia produtiva como um todo sente essa melhora. Afinal, fabricando mais produtos, as indústrias demandam uma quantidade maior de matéria-prima, fazendo com que empresas de componentes, couros e máquinas também sintam esses primeiros sinais da retomada. E foi o que aconteceu na hamburguense Wolfstore. O diretor Bráulio Wolff conta que a empresa começou a sentir esse novo cenário em junho, dois meses após a companhia atingir o pico da crise. Em abril, quando cerca de 60 pessoas tiveram que ser desligadas, o faturamento foi de apenas 20 a 25% do habitual. “Como alternativa para a empresa seguir produzindo, optamos por fabricar máscaras e tapetes sanitizadores. Além disso, utilizamos das medidas de suspensão e redução da jornada até junho. E com a melhora, em julho já começamos a reduzir essas medidas, trabalhar em tempo integral e atingimos 70% do nosso faturamento normal com a nossa área de atuação principal”, revela Wolff. E para produzir os pedidos que estavam entrando, a empresa teve que contratar 11 funcionários no mês passado. “E vamos ter que contratar mais. Em agosto, pretendemos contratar mais nove colaboradores”, fala Wolff, ao dizer que no último mês, inclusive, a empresa precisou investir em bens de capital. “Compramos cinco máquinas e queremos comprar mais neste ano.


Mês de julho melhor que o esperado
Outra empresa de componentes, o Grupo Cofrag, de Sapiranga, chegou a ficar 70 dias sem emitir nota fiscal na unidade cearense da empresa por causa das medidas restritivas. No Vale do Sinos, as atividades chegaram a parar 100% no final de março, mas a partir do retorno em abril, a produção, em Sapiranga, chegou a 40% em junho. E a melhora no cenário no mês passado chegou a surpreender. “O mês de julho foi melhor do que esperávamos. Começamos a sentir vários clientes voltando. A nossa expectativa para agosto é que o que se tinha planejado vai acontecer. Hoje, ainda temos alguns colaboradores com redução de jornada, mas acreditamos que no mês de setembro já estejamos com todo quadro com jornada integral”, fala a diretora executiva Carla Haag, que está otimista. “Vai levar um tempo para essa retomada acontecer a pleno, mas estamos recuperando espaços importantes.”



Reflexos da pandemia no setor
43,9 mil postos de trabalho perdidos de janeiro a junho. Esse foi o resultado da diminuição drástica nos pedidos e da paralisação das atividades no Brasil. Entretanto, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), elaborados pela Abicalçados, quando analisados mensalmente mostram que as perdas estão diminuindo.
No Rio Grande do Sul, considerado o principal polo de toda a cadeia, o cenário não foi diferente. O setor coureiro-calçadista é apontado como o segmento gaúcho que obteve o pior desempenho desde o início da pandemia.
O último Boletim Semanal da Receita Estadual mostra que o segmento teve um recuo de 53% nas vendas de 16 de março deste ano a 24 de julho no comparativo com o mesmo período do ano passado.
Resultado que levou a uma diminuição da força do trabalho com uma perda de 14,7 mil empregos somente nas fábricas de calçado.



Projetos da Fimec começaram a ser negociados
A maioria das empresas da cadeia produtiva paralisaram suas atividades logo após a edição deste ano da Fimec, o que para o setor de máquinas e equipamentos fez com que muitas negociações não andassem na sequência da feira. Contexto que foi sentido na hamburguense Master. O diretor da empresa, André da Rocha, pontua que há uma melhora no cenário nos últimos 70 dias. “Surgiram consultas e negociações. Não houve aumento no volume, mas uma constância”, fala, ao dizer que a empresa já fechou pedidos para o mercado interno e externo. “Alguns dos projetos da Fimec começaram a ser retomados de maneira consistente. Acho que não vamos retroceder.



Parte do estoque produzido já foi vendida
Dentro da cadeia, o único segmento que não paralisou as atividades foi o coureiro. Mesmo sendo consideradas essenciais, os efeitos da pandemia chegaram as empresas, que continuaram curtindo couro, mas sentiram a diminuição nos pedidos. “Para nós o ponto crítico foi abril, tanto que o faturamento foi zero. Reduzimos o horário e seguimos fazendo estoque. O cenário foi melhorando e tivemos meses de razoáveis para bons, considerando a conjuntura atual”, frisa o diretor comercial do Cortume Krumenauer, Joel Krumenauer. O executivo comenta que uma parte do estoque produzido neste período já foi vendido. “Esperamos que o cenário melhore regularmente.”

 


Notícia: Nicolle Frapiccini (Grupo Sinos) para Jornal NH e Jornal Exclusivo
nicolle.frapiccini@gruposinos.com.br

Foto: Inézio Machado/GES


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